Uma Rua ao Frio

O contraste do frio do chão coberto de neve e o calor que vem de dentro do casaco. O choque do ar gelado com o respirar.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Anabela

Folhas secas. Verde. Sol. Luz. Vento.
Silêncio depois do barulho. Barulho depois do silêncio.
Sombra.
Um carro que passa deixando a música para trás.
Uma bandeira que há muito deixou de bailar.
Um caminho. dois sentidos. Mas nada disto existe para ela.

Caminha sem destino em círculos imperfeitos dialogando extensos monólogos. Arranja-se, retoca-se, preparando o melhor de si em cima daquele palco. Não há encenação. Não há protagonistas. Um one woman show que carrega num cenário sem pano.
Uma misteriosa senhora de braços cruzados. Não sorri. Há muito que a sua cara desgastada não esboça um sorriso. O seu corpo cansado está mirrado, mas não esconde dias de glória, em que projectava a sua energia para quem naquela sua sala se sentasse a vê-la. Hoje pára ao lado de quem passa, sem perder o ego que as luzes lhe deram, descendo por momentos à realidade, tentando alimentar o regresso.

Por momentos pára fumando o cigarro cravado com palavras rimadas. Lentamente, inspira o fumo que a lança de novo para a luz forte que a aqueceu durante tantos anos.
Ali, no meio da rua, sente a gota de suor que lhe escorre pela cara, borrando a maquilhagem, ao ritmo dos aplausos de mais uma noite de sucesso.